quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sexta à noite

Verdade é que aquele dia o forró estava bom. Gertrudes estava até cansada de tanto arrasta pé. Pensou ser melhor dar uma encostadinha no bar, tomar alguma coisa pra esquecer a canseira. Joilson tava lá só observando, não sabia dançar, mas sabia que no forró que se encontrava mulher das boas mesmo. Mal Gertrudes encostou ele ficou todo animado.
- Oi
- Oi, princesa, tudo bem?
- Tudo. E você?
- Melhor agora, que a sua presença ilumina mais a vista
- Ah pára de falar besteira homi... faz o que da vida?
- Sou pedreiro, e você?
- Sou empregada... na verdade minha patroa prefere que eu diga auxiliar doméstica, mas é a mesma coisa.
Mal o sorriso terminou ela resolveu ensinar ele a dançar, homi que nem ele num podia ficar só olhando, não. Ele ficou sem jeito, ia perder a moral, parecer frouxo. Pé pra lá, pé pra cá... bom mesmo era sentir ela, assim, todinha.
- iih, discupa.. sou desajeitado memo! Machuquei seu pé?
- Não se preocupa não.
E voltou a cair na dança. Enfeitiçando nos olhos. Quer coisa melhor na vida?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Teoria dos determinantes

João nenhum,
um dia,
levantou cedo
escovou os dentes poucos
enfiou alguma roupa
andou as horas muitas
trabalhou os dias todos
mas nunca virou João Alguém.

domingo, 11 de abril de 2010

Memória

Quero um amor pra recordar
cada momento do dia
que se encher de ausência

Quero um amor pra recordar
minutos antes de fechar os olhos
no instante em que sonho e realidade
brincam de roda

Quero um amor pra recordar
cada vez que me sentir com medo
ou ameaçada
situações essas
de desproteção

Quero um amor pra recordar
até o instante de reencontrar
e lembrar então que é pra sempre.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Resignação

O Espírito me cobra
todas as palavras que calei.
Que tinha ela
pra marcar tão profundamente
a minha alma?
Meu receio me manteve inerte
frente ao seu poema
frente aos seus sonhos duros
e não há mais o que fazer
frente à sua não presença.
Poemas inúteis.
Palavras inúteis
essas que a gente guarda
no silêncio de um novo verso.

silêncio

Sua ausência me culpa.
Sinto o peso da obrigação,
a de, pelo menos,
tentar fazer alguma coisa -
qualquer coisa..
Será a palavra
o suficiente?
O preço do feijão
não cabe no poema.
Bastaria, sinceramente, o amor?
Seria alguma coisa
(ao menos)
qualquer coisa.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Momento

E nessa atmosfera
que poucos entendem
e eu
apenas eu
presencio contigo
ajoelho outra vez
completamente desnudada
de alma e espírito
me entrego
sem medo, receio,
a essa Presença irresistível
e outra vez Sua mão em meu rosto
não há mais porque chorar
me aconchego
suspiro
sempre por perto
e com tudo preparado
me espera
sou mesmo criança
tola, teimosa, ingênua
mas Tu, meu Pai,
conhece o profundo de mim.
Obrigada.