quarta-feira, 29 de julho de 2009

Gotejante

Há uma gota de sangue em cada poema
Há na verdade uma gota de vida em cada verso
uma gota de verso em cada vida
Cada vida vivida pingadamente
aqui... ali...

Sim as dores são necessárias
mas há dores pelas quais escolhemos passar
e em determinado ponto nos perguntamos
onde é que eu me perdi?
aqui... ali...

Nunca se sabe quem será a próxima pessoa a se conhecer
O próximo amor pra toda vida
A próxima desilusão
Tudo está por toda parte, à espreita
aqui... ali...

Sim, é caindo que se aprende a caminhar
Mas são tantas pedras
sempre dispostas a nos ensinar o próximo passo
com sede, muita sede
aqui... ali...


Não faltam espectadores
atentos, sedentos
comentadores natos
críticos sempre renomados
espiando
aqui... ali...


Companhia faz falta
A solidão só faz a gente olhar pro mais dentro
e isso atrapalha
É sempre bom conversar
aqui... ali...

Tantas vidas estagnadas
Gente de olhos tampados
afásicos, alienados
é tanta gente sem consciência
aqui... ali...

E os assuntos continuam a me dominar
me envolver
perder...
Não importa se aqui ou ali
se aqui e ali
O importante é que vou.

domingo, 26 de julho de 2009

(incompleto)

Estava lá já há uns vinte minutos. Não tinha forças pra se mexer. O sol era tão quente que dava a todo o corpo uma sensação de ausência. Não quis ter forças pra se mexer. A dor era tanta que sentia-se arrebatada. Cada veia do seu corpo trepidava vacilante, pendendo, involuntariamente. Não queria pensar. A lembrança fere tanto quanto picada de cobra, arranca lentamente do estado consciente levando ao delírio cada vez mais forte até te tragar a um ponto irreversível. Respiração ofegante. Brota meio envergonhada esse pequeno mundo dos olhos... desfez-se abismo abaixo. Não queria pensar. Sentia-se completamente dilacerada, como se tivesem arrancado tudo de interno até ficar oca. Carcaça. O que faria dessa criança?

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Senhor,
Sei que ainda estou aprendendo a caminhar
Sei que sempre estarei aprendendo a caminhar
Caminhar nessa vida não é talento de ninguém
Temos a mesma visão limitada
Somos todos passíveis ao tombo
Simples e pequena pedra no caminho
Se fosse tão maior do que a gente
Não correríamos riscos,
não de tropessar
É tudo porque esquecemos
ou não nos importamos
em olhar para baixo
para as coisas pequenas
É sempre tão bom olhar pra cima
ou pra dentro
Sim, às vezes é necessário,
mas o mergulho intenso
nos deixa à mercê do que realmente tá acontecendo
Da mesma forma
todo o caminho se torna desinteressante
quando passamos a olhar só para o chão
É necessário olhar o tempo
a paisagem
o horizonte
o céu
o sol
as estrelas
Coração bate forte
Não sei porque dessa necessidade de saber o que vem depois
Se soubesse tudo o que viria
pra que vir?
É preciso o mistério
a incerteza
Coração bate forte
Se pensar em várias coisas que já aconteceram
ruins e boas
não seria vida se não fossem sucessórios
Evitaria situações ruins
E de só viver coisas boas
se tornariam menos boas
O caminho das flores leva a perdição
Como as flores encantadas
da estrada de tijolos amarelos
Coração bate forte
O caminho
Senhor,
guarda-me
não dos tropeços
nem do olhar pra cima
ou do olhar pra dentro
mas do parar de andar.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Não sei bem o que pensar.
Sinto-me à beira do caminho
- não à margem,
à beira.
Talvez seja o medo de não ser capaz de ir à frente
ou talvez não.
É tão penoso pensar no passo iminente.
Tanto tempo sentada nessa pedra
- e a espera vindo,
crescendo,
longa...
O silêncio.
Quero cantar, mas... não sei,
mania de olhar...
É pesado, muito pesado.
Mas antes de firmar o próximo passo
é necessário tirar um pé do chão,
enquanto todo o seu ser fica à mercê de um único ponto de contato com a realidade.

sábado, 4 de julho de 2009

Eu não sei bem.
Sinto como se fosse o édipo, que furou seus próprios olhos como penalidade.
Não digo que estou cega, mas estou muda. Meus olhos continuam bem abertos.
Até demais. Mania de querer tragar tudo a volta como se precisasse se apegar a cada milímetro de existência.
Muito tempo andei assim, como os primeiros meses da criança, que só observa e tenta entender o que está acontecendo a sua volta, internalizar. Tudo isso sem poder expressar qualquer nota de espanto ou dúvida. Só lhe é permitido o choro. Dado os meus 21 anos, nem o choro escandaloso e catártico me é permitido. Só as lágrimas humildes que surgem no escondido de mim.
Ainda não entendi direito o que aconteceu. Porque toda a minha capacidade de transformar o que está fora em dentro e de dentro em fora. Meu canto... Sinto-me afásica. Como quem passou por um traumatismo e choque inibiu a voz. Longo trabalho de fisioterapia.
Será esse um retorno?
Espero que sim.