quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Expiração

Esse eu sem fim me cansa. Queria que não fosse assim tão infindável, tão enfadante. O infinito pesa mais que ser simplesmente. Às vezes machuca. O conhecimento, o mesmo que clareia as ideias, clareia também as feridas... às expõe como em uma mesa cirúrgica... só se esquece a anestesia. Não entendo o porquê dessa necessidade insaciável de autoconhecimento e de evolução... mentira. Entendo sim, mas se você não entende não sou eu que vou lhe explicar. Melhor assim. Melhor não saber. Todo o processo de desconhecimento e de desconscientização dá muito trabalho. Dói e há sempre perdas, sim, físicas.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

E então ela chorou.
Lágrimas assim caladas, mas que carregavam no seu âmago a semente do grito, do desespero, que por algum motivo permaneceram apenas lágrimas.
Queria parar mas aprendera a duras penas que o mundo não é feito de vontades realizadas. Procurou disfarçar, como se tentasse ser alheia a si mesma, como se tornasse só exterior e então seria enfim o que ele tanto quisera, uma casca, uma boneca. Todas as suas tentativas frustadas de não ligar, não sentir ciúme, não esperar retorno agora estavam mais presentes em sua face do que nunca. Não, não era por causa dele que estava chorando, aliás, não tem ninguém chorando... Dor. Será que nem a manifestação silenciosa desse segredo ela não se permitia? Quem a poderia ver ali, naquele banheiro com a porta fechada? Não, ele não merece isso que ele fez nela. Mas já fez. O que lhe resta fazer?

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Canção de Ninar

Senta, criança, senta
tenho histórias pra contar
sobre terras bem distantes
cavalos que voam,
gente pequenininha
do tamanho de um polegar.

Senta, criança, aquieta-te
tudo na vida há de passar
Vento corre
carregando o tempo
mais rápido do que podes imaginar.

Senta, criança, senta
Pára um pouco pra pensar
Por que temes se Sou contigo?
Descansa
que de ti eu vou cuidar.

Criança senta
criança deita
criança dorme devagar
criança sonha com terras distantes
com flores que dançam e árvores a falar

Seu Pai a leva pra cama
estende a mão pra abençoar
Beija sua testa, sorri
Criança dorme, criança sonha
com castelos brilhantes
e uma viagem lunar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama."

Foi assim. De repente. Num instante todos os pedaços de mim estavam espalhados pelo chão de minha sala. Fiquei ali, parada, vendo pouco a pouco o esvaziar-me de mim mesma. Reflexos. Pedaços de algo que não está mais em mim, mas que ainda sou eu.
Ele? Fechou a porta atrás de si, sem nem olhar pra trás. Menor interesse nesse espetáculo de desconstrução não tinha. Ar sai das entranhas num lufo, carregando tudo para fora. Ponteiro pára: e a sensação de esvair-se.
Riacho nasceu do mais profundo das minhas terras. Vontade de desfazer-me para criar-me de novo, de outra forma, qualquer forma que me fizesse não ligar. É tão difícil o conviver-me. É pior do que ficar frente ao espelho buscando quem é aquela. Talvez só alguém que precisa ir pro deserto.
E a sensação de suspensão causada pela imagem, que toda a vida que se construiu sonhada, implodindo. Malditos camicases!
De nada adianta ficar observando o fogo se espalhar por toda a mata. As cinzas. O escuro. A fumaça. É preciso limpar a área para reflorestar.