segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Asas Brancas

Eu sinto que ela está voltando.
Eu sei, eu creio.
Não sei bem se o vento
ou o sol
mas é ela, eu sinto.
Sim, a poesia voltou ao meu sertão.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Indiferente é uma palavra muito forte. Talvez seja até mais forte que o próprio nome "indiferença", que é algo vago e, de tão vago, longe. Indiferente não. Indiferente é algo externo que antes foi interno (e ainda o é) - o interno externalizado - portanto, próximo. O típico sentimento que se transfigura em atitude, algo que atinge tudo o que é outro.
O indiferente atingiu em cheio Lilian aquele dia. Não porque ela não tivesse conhecimento da existência dessa força, mas porque ela não se conhecia outro. Toda essa história de pertencimento era o que valia. Sempre. Não acreditava em espaço, ou qualquer coisa que envolvesse afastamento.
Eram na verdade aquele tipo de casal que desperta o asco nos demais casais (mas no fundo isso é sempre um mascaramento da inveja que sentem). Tinham uma tal maneira de caminharem que lhes conferiam a tal unidade. Se olhavam. Como se olhavam! Às vezes não ousavam palavra. Poderia desviar os olhos um do outro. Ele sempre fez tudo por Lilian, e depois de um melódico 'obrigada' repetia, assiduamente: Você é parte de mim!
Como esperar que a coitada entendesse diferente?
Mas o acontecido não tem volta. Fato esse que causou estranhamento até mesmo nos familiares, que nada tinham a ver com isso. A verdade é que Casemiro havia se cansado. O cansaço é lá uma coisa bastante perigosa. Proporciona o desligamento de qualquer ímpeto racional. Alegações dele. Mas o acontecido não tem volta. Romperam. E ela pra um canto, ele para o outro. E assim ficaram por três meses.
Chovia aquela tarde em que se reencontraram. Faz tanto tempo... Lilian ainda com aquele mesmo olhar ameaçador, não porque ela oferecesse qualquer ameaça física, mas é o perigo que toda mulher tem no olhar (poucas tem conhecimento disso). Casemiro ainda com aquele ar de que o mundo é tão pequeno, isso o fazia tão forte, invencível. Mas a verdade era que ele tinha perdido o emprego, e estava pra ser despejado da pensão. O pai não queria o ver em casa. Assunto pra outra hora. E ninguém por ali estava disposto a lhe arranjar qualquer serviço. Estava indo para o centro. Quem sabe tivesse mais sorte. Não, ainda não havia aprendido a ser indiferente. Tinha aprendido as consequências - uma cicatriz das bem grandes alojada bem no meio do peito, ainda doía cada mudança de estação.
Segurou a mão dele. Sorriu. Sentiu outra vez aquilo por ela, aquilo que nunca soube explicar. Ela não. Sentiu algo diferente. Mágoa é uma coisa que não tem volta...
Estava a caminho da sua padaria. Infelizmente não havia vaga. Beijou seu rosto e saiu.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Desatina

Menino bonito
ergueu as mãos
tentou pegar nuvem
fazer algodão doce pra me dar

Não pôde.
Céu tava azul
Aberto que nem margarida
limpinho aqui dentro.

Procurou então um pássaro
dos mais coloridos
queria as penas
me dar um colar

Cadê o bicho?
que só se escuta o canto,
hora aqui,
hora lá...
ou se pensa escutar?

Disse então buscar um pouco d'água
sol quente
calor forte
árvores rarefeitas

Desistiu.
rio tinha piranha,
teve medo.

Menino bonito se aborreceu
tentou alcançar uma pedra
para chutar.
não achou.
Sentou emburrado
debaixo do sol.

Menino bonito é engraçado.
Sempre tentando
pegar as coisas externas
como se fossem palpáveis
internalizar o que já mora
ali dentro da gente.