quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Indiferente é uma palavra muito forte. Talvez seja até mais forte que o próprio nome "indiferença", que é algo vago e, de tão vago, longe. Indiferente não. Indiferente é algo externo que antes foi interno (e ainda o é) - o interno externalizado - portanto, próximo. O típico sentimento que se transfigura em atitude, algo que atinge tudo o que é outro.
O indiferente atingiu em cheio Lilian aquele dia. Não porque ela não tivesse conhecimento da existência dessa força, mas porque ela não se conhecia outro. Toda essa história de pertencimento era o que valia. Sempre. Não acreditava em espaço, ou qualquer coisa que envolvesse afastamento.
Eram na verdade aquele tipo de casal que desperta o asco nos demais casais (mas no fundo isso é sempre um mascaramento da inveja que sentem). Tinham uma tal maneira de caminharem que lhes conferiam a tal unidade. Se olhavam. Como se olhavam! Às vezes não ousavam palavra. Poderia desviar os olhos um do outro. Ele sempre fez tudo por Lilian, e depois de um melódico 'obrigada' repetia, assiduamente: Você é parte de mim!
Como esperar que a coitada entendesse diferente?
Mas o acontecido não tem volta. Fato esse que causou estranhamento até mesmo nos familiares, que nada tinham a ver com isso. A verdade é que Casemiro havia se cansado. O cansaço é lá uma coisa bastante perigosa. Proporciona o desligamento de qualquer ímpeto racional. Alegações dele. Mas o acontecido não tem volta. Romperam. E ela pra um canto, ele para o outro. E assim ficaram por três meses.
Chovia aquela tarde em que se reencontraram. Faz tanto tempo... Lilian ainda com aquele mesmo olhar ameaçador, não porque ela oferecesse qualquer ameaça física, mas é o perigo que toda mulher tem no olhar (poucas tem conhecimento disso). Casemiro ainda com aquele ar de que o mundo é tão pequeno, isso o fazia tão forte, invencível. Mas a verdade era que ele tinha perdido o emprego, e estava pra ser despejado da pensão. O pai não queria o ver em casa. Assunto pra outra hora. E ninguém por ali estava disposto a lhe arranjar qualquer serviço. Estava indo para o centro. Quem sabe tivesse mais sorte. Não, ainda não havia aprendido a ser indiferente. Tinha aprendido as consequências - uma cicatriz das bem grandes alojada bem no meio do peito, ainda doía cada mudança de estação.
Segurou a mão dele. Sorriu. Sentiu outra vez aquilo por ela, aquilo que nunca soube explicar. Ela não. Sentiu algo diferente. Mágoa é uma coisa que não tem volta...
Estava a caminho da sua padaria. Infelizmente não havia vaga. Beijou seu rosto e saiu.

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