quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Encontro

Permitiu que seus olhos repousassem sobre o prato remexido por alguns instantes. Uma fração incerta de toda a eternidade. A boca entreaberta cerrava todas as palavras que queria dizer. No meio de todo o burburinho do restaurante, olhou de novo pra ela que aguardava aflita qualquer reação. Sorriu entre os lábios enquanto dava uma última garfada na comida. Última porque seu estômago não aguentava mais aquele odor de pessoas alegres e despreocupadas. Olhou outra vez no relógio enquanto ela lhe falava de coisas supérfulas e dislexas. Interessante seria se ao se despedir ela lhe tivesse convidado pra um café, ou ainda se tivesse tropeçado nos degraus da porta, de maneira que lhe causasse algum prazer. Nenhum. A cidade jazia numa calma morna de luzes acesas por pura conveniência. Mais um sinal fechado. Um cachorro que fuçava o lixo lhe fez pensar que talvez sejamos todos cachorros buscando arduamente algo de produtivo ou aproveitável no outro. Talvez seja um pensamento vítima de toda cultura burguesa que lhe fora imposta por séculos. Mas não por isso menos verdadeiro. Evidente é o fato de que uma pessoa se torna interessante a partir do momento que descobrimos nela algo que nos seja produtivo, um assunto, uma posição, um conflito, ou aproveitável, uma diferença, algo criticável, ou rizível. Caso contrário, a pessoa jaz na completa inexistência. E a indiferença é a pior das mortes.

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