sábado, 27 de março de 2010

Alice

Alice tinha mesmo o queixo para dentro. O que conferia a seus grandes olhos um ar inquiridor constante. Sentada rotineiramente no ônibus, inquiria sobre tudo que lhe passava à janela, sobre todos os que estavam em pé no corredor. Inquiria sempre, constantemente, sobre o sinal que insistia em fechar quando estava atrasada. Inquiria a hora, já tarde da noite, quando parece sempre levar uma eternidade pra chegar em casa.
Mas semana passada foi diferente. Seu chefe apareceu de última hora e ordenou que ficasse mais tempo, tinha que terminar o relatório. Ela aceitou de cabeça baixa, não tinha coragem de inquirir descasadamente. Passadas umas duas horas após o expediente, inquiriu, numa completa digressão, sua mão inaliançada. Talvez fosse seu queixo pra dentro que fazia sua testa parecer bem maior. O chefe apareceu de repente. Disfarçou. Já tinha quase terminado. O chefe mandou que não se preocupasse, tarefa bem difícil de obedecer. Se aproximou de forma estranha, Alice pode pela primeira vez inquirir os botões acima do umbigo sempre amostra na barriga gorda. Se aproximou tanto que não sabia o que inquirir. Ele queria lhe dar um aumento e, quem sabe, uma vida boa. Ao sentir que era agora o chefe quem lhe inquiria as partes, Alice saiu correndo mais depressa que o coelho atrasado, quase esqueceu a bolsa! E foi a primeira vez que pode andar por aquela rua, que não era nenhuma maravilha.

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